Um aplicativo de e-commerce de aparência simples hoje em dia pode facilmente ser, na verdade, um grande conjunto de microsserviços coordenados, alimentados por containers, orquestrados usando Kubernetes e hospedados em uma nuvem híbrida. A combinação representada por esse exemplo permite uma entrega mais rápida de código, contas de hospedagem mais baratas e uso mais eficiente dos recursos do servidor.
Embora os componentes da aplicação certamente tenham se tornado menores com o passar do tempo, as organizações hoje em dia têm a tarefa de gerenciar dezenas de milhares de containers em um ambiente de produção. Em uma pesquisa da Cloud Native Computing Foundation (CNCF) realizada no ano passado, cerca de 92% dos entrevistados disseram que usam containers em produção, um aumento de 300% em relação a apenas 23% na primeira pesquisa, realizada em março de 2016.
Essa complexidade de coordenação em escala está sendo gerenciada pela entrega de pipelines de software: assim como Henry Ford revolucionou a indústria automobilística com sua linha de montagem, produtos integrados a partir de uma abordagem DevOps têm impactado maciçamente verticais como Finanças (a partir das Fintechs) e Seguros.
Tal é a importância de acompanhar as tendências DevOps que têm se desenrolado em 2021: seu impacto no mercado de novos negócios digitais não pode ser ignorado.
Desenvolvedores se tornaram decision makers e influenciadores
O movimento de cima para baixo do departamento comercial/vendas das organizações em grande parte não funciona da forma tradicional no mundo nativo da nuvem: necessita ser suportado pela adoção da comunidade, em um movimento de baixo para cima. Por exemplo, os melhores desenvolvedores escolhem as ferramentas recomendadas por colegas para resolver esses desafios tecnológicos. Os desenvolvedores de hoje aproveitam grandes comunidades, se auto-organizam e escolhem as melhores ferramentas de código aberto para iniciar pequenos projetos que têm potencial para impactar a curva de crescimento de qualquer organização. Para os fornecedores das ferramentas e plataformas, a influência do desenvolvedor como “advocate” é vista como uma estratégia importante para a aquisição de novos clientes.
Pipeline de entrega de software integrado
Os CTOs geralmente escolhem produtos líderes no segmento para cada categoria da cadeia de ferramentas DevOps. Integrar essas ferramentas para manter um pipeline CI/CD eficaz ao longo da história tem sido doloroso, e requer a junção de ferramentas usando scripts personalizados. O que, por sua vez, leva à frustração por parte dos mantenedores de tais scripts. Para enfrentar esse desafio, plataformas DevOps integradas de ponta a ponta tendem a se tornar a norma daqui para frente. Isso porque essas plataformas oferecem automação integrada em alguns dos melhores componentes de classe, e de quebra ainda irão permitir que as organizações integrem outras ferramentas DevOps em um esquema plug-and-play.
“Shift Left” de código
O fenômeno “shift left”, que permite a correção de bugs e questões de segurança no início do ciclo de vida de desenvolvimento do Produto – quando é mais barato fazê-lo – tem se acelerado. Ao implementar um modelo de responsabilidade compartilhada em questões envolvendo segurança e permitir que os desenvolvedores tenham mais propriedade com relação à infraestrutura, além de outros problemas críticos em produção com o código, as organizações têm entregado código de forma mais barata, mais rápida, e com menos bugs.
Automação DevOps low-code
Muitos fluxos de trabalho são modelos padrão no mundo DevOps. Se não, vejamos: procure um alerta em produção; priorize-o, examine a base de conhecimento para uma correção; crie um incidente, aplique a correção, resolva o ticket e repita o processo. Este exemplo é uma simplificação exagerada, evidentemente, mas há muitos casos de uso repetidos que podem ser gerenciados automaticamente. Esses fluxos de trabalho podem e devem ser automatizados, o que pode tornar as equipes de DevOps mais eficazes. É bem provável que, em um futuro próximo, interfaces de automação low-code personalizáveis evoluam para servir como “armas secretas” de engenheiros DevOps mais experientes.
Segurança na velocidade do desenvolvimento
Aproximadamente uma década atrás, os ciclos de lançamento de software costumavam durar de 04 a 06 meses (se não muito mais que isso ainda). Hoje em dia, no entanto, o ciclo de vida na entrega e a cadência de lançamento de um Produto estão se acelerando cada vez mais. O relatório “State of DevOps 2019” aponta que, entre as organizações com melhor desempenho, estão as que implantam software cerca de 1.460 vezes por ano, o que representaria cerca de 4 implantações por dia.
Segurança, conformidade, gerenciamento de vulnerabilidade, autenticação e autorização, todos esses elementos precisam se mover na mesma velocidade, caso contrário, a entrega de código seguro simplesmente não será possível. Os CISOs mais inovadores adotaram um modelo de propriedade de segurança compartilhada (shared ownership) que permite aos proprietários de componentes de aplicativos detectar e corrigir vulnerabilidades. Neste modelo compartilhado, um bom equilíbrio entre agilidade (para que o desenvolvimento não seja bloqueado) e segurança (para que o risco possa ser mitigado) precisa ser alcançado.
O ebook Gartner Top Strategic Technology Trends para 2021 destaca como os desafios socioeconômicos sem precedentes de 2020, com a chegada da pandemia no mundo inteiro, ajudaram a delinear assuntos como nuvem distribuída, engenharia de IA, malha de segurança cibernética e negócios combináveis (composable business) entre algumas das principais tendências para 2021.
As tendências deste ano se enquadram em 3 grandes temas: entrega resiliente, independência de localização e foco primordial em pessoas (people centricity):
People centricity: embora a pandemia tenha mudado o número e a forma como as pessoas trabalham e interagem nas organizações, elas ainda estão no centro de todos os negócios. E, mais que nunca, precisam de processos digitalizados para funcionar no ambiente de negócios atual.
Independência de localização: A COVID-19 mudou o local onde funcionários, clientes, fornecedores e ecossistemas organizacionais existiam fisicamente. Assim sendo, essa independência de localização requer uma mudança de tecnologia para dar suporte a esse novo “formato” de se fazer negócios, em ambiente virtual.
Entrega resiliente: Seja em função de uma pandemia ou em um cenário de completa recessão, a volatilidade sempre existiu no mundo. Nesse contexto, organizações que estão preparadas para pivotar e se adaptar tendem a resistir a todos os tipos de disrupções.
Entre as 9 tendências tecnológicas estratégicas, destacam-se:
Nuvem distribuída
Nuvem distribuída é onde os serviços de nuvem são distribuídos para diferentes locais físicos, mas a operação, governança e evolução permanecem sob responsabilidade do provedor de nuvem pública.
Permitir que as organizações tenham esses serviços fisicamente mais próximos delas ajuda em cenários de baixa latência, reduz custos de dados e ajuda a acomodar as leis que determinam que os dados devem permanecer em uma área geográfica específica. No entanto, também significa que as organizações ainda se beneficiam da nuvem pública e não estão gerenciando sua própria nuvem privada, o que pode ser caro e complexo. Como resposta, a nuvem distribuída passa a ser estratégica como tendência para o futuro.
Engenharia de IA
Uma estratégia robusta de Engenharia de IA facilitará a interpretação, o desempenho, a escalabilidade e a confiabilidade dos modelos de IA, ao mesmo tempo que oferece o valor total dos investimentos em Inteligência Artificial. (Os projetos de IA geralmente enfrentam problemas de manutenção, escalabilidade e governança, o que os torna um desafio para a maioria das organizações).
A Engenharia de IA oferece um caminho, tornando a Inteligência Artificial parte do processo DevOps principal, em vez de um conjunto de projetos especializados e isolados. Tem a capacidade de reunir várias disciplinas para domar o “hype da IA” ao mesmo tempo em que fornece um caminho mais claro para geração de valor ao operacionalizar a combinação de várias técnicas de Inteligência Artificial. Devido ao aspecto de governança que envolve a Engenharia de IA, a “Inteligência Artificial responsável” está surgindo para lidar com questões de confiança, transparência, ética, justiça, interpretabilidade e conformidade. É a operacionalização da chamada AI Accountability.
Hiper Automação
Hiper automação é a ideia de que tudo o que pode ser automatizado em uma organização deve ser automatizado. A hiper automação é impulsionada por organizações com processos de negócios legados que não são simplificados, criando problemas imensamente caros e extensos para as organizações.
Muitas organizações são apoiadas por uma “colcha de retalhos” de tecnologias que não são enxutas, otimizadas, conectadas, limpas ou explícitas. Ao mesmo tempo, a aceleração dos negócios digitais exige eficiência, rapidez e democratização. Como consequência direta, as organizações que não se concentrarem na eficiência, eficácia e agilidade de seus negócios serão deixadas para trás.
No vídeo abaixo, a apresentação das 9 tendências (com legendas em inglês).